Apr 30, 2007

Vomitórios da antiga Grécia


A Idade Antiga é caracterizada pelos grandes “banquetes”. O apogeu
dessa época é marcado pela riqueza e, trouxe hábitos exagerados de comer e
beber. A história da alimentação na Idade Média é marcada pela actuação dos monges, com notáveis conhecimentos culinários associados à riqueza e fartura da Igreja Católica. Esta expansão de conhecimentos culinários passou à exuberância e à expressão dos prazeres gastronómicos (DÓRIA, 2002).

O padrão alimentar burguês, nascido na Idade Contemporânea, é marcado pela internacionalização da cozinha, onde pratos regionais se misturam com os clássicos de outros países. Mantêm-se os “excessos” que já se encontravam presentes desde os tempos primórdios da civilização. Como afirma Dória (2002) “Já no seu nascedouro a gastronomia é uma perversão: não visa saciar a fome e projecta-se como promessa prazerosa escondida além da saciedade”. Nesta época foram introduzidos na Grécia os vomitórios, para possibilitar a continuidade dos excessos à mesa (FLANDRIN e MONTANARI, 1998). Os vomitórios eram então usados em banquetes de grande apogeu social e serviam para intercalar episódios de grande voracidade alimentar. Caso os convidados não comessem até não poderem mais era considerada uma grande falta de respeito e educação.

Etilogia da Ingestão

Qualquer acto de ingestão de alimentos tem uma etiologia multifactorial, nomeadamente relacionada com o contexto sociocultural em que o individuo se encontra.
Um dos assuntos mais controversos está relacionado com a actual imagem de beleza aquando se dá uma extrema valorização do corpo magro e uma grande importância à aparência física e fisiológica. Assim assiste-se hoje a vários riscos decorrentes da prática indiscriminada de dietas de emagrecimento, estimulada por familiares, amigos, profissionais e pelos “media”. Portanto, aqueles profissionais, como alguns nutricionistas, endocrinologistas e outros, que prescrevem dietas restritivas, precisam de ser esclarecidos quanto aos riscos, uma vez que tais orientações desconsideram os medos e receios relacionados aos alimentos e ao corpo, ignorando, assim, a subjectividade envolvida e a influência exercida pelo contexto próximo. Uma prática impositiva, como as dietas restritivas, não contribui para as mudanças necessárias, que devem ocorrer de forma saudável e positiva pela mudança do comportamento alimentar. É a reeducação alimentar a proposta nutricional mais adequada e que tem apresentado melhores resultados. Assim, os profissionais da área de saúde deveriam ser preparados para orientar seus pacientes em direcção a uma prática alimentar saudável. Para isso, fazem-se necessárias mudanças na formação dos profissionais de saúde, sendo preciso uma humanização dos cursos e um trabalho integrado entre os profissionais envolvidos na assistência ao paciente com transtorno alimentar (nutricionistas, psicólogos e médicos).

Apr 16, 2007

Carências Nutricionais e Factores culturais


Factores culturais podem conduzir a carências alimentares e impedirem uma escolha adequada de alimentos para uma dieta balanceada. Como exemplo temos os Brasileiros e a Hipovitaminose A.

A selecção de alimentos é muito complexa e influenciada por muitos outros factores além do acesso aos alimentos e o conhecimento de nutrição. Embora se saiba que quando os alimentos não estão disponíveis é bem provável que ocorra deficiência, por outro lado, a abundância não assegura óptima nutrição devido ao componente comportamental que determina a escolha dos alimentos.

A carência de vitamina A é considerada uma dos maiores problemas nutricionais em Saúde Pública no Brasil. A ingestão inadequada de alimentos fonte de vitamina A é o principal factor etiológico da carência desta vitamina e a sua exclusão ou baixo consumo estão mais relacionados com questões culturais e hábitos alimentares do que a factores económicos.

Alguns estudos têm demonstrado a associação entre factores relacionados a tabus e a exclusão de alimentos importantes, como os de fonte de vitamina A, principalmente os de origem vegetal, considerados como os mais acessíveis do ponto de vista financeiro. O uso de vegetais na alimentação do brasileiro é reflexo dos padrões culturais. Os índios brasileiros não davam importância aos vegetais verdes. O uso de vegetais, característicos da cozinha africana, foi introduzido no Brasil pelos escravos negros.

A base da dieta tradicional do Nordeste Brasileiro – arroz, feijão e farinha de mandioca – é extremamente pobre em vitamina A.

Trabalhos realizados em diferentes regiões do Brasil revelam que os alimentos fonte de vitamina A são alvo de várias crenças, proibições e tabus alimentares, e que muitas vezes estão relacionados a momentos fisiológicos de grande importância, sob o ponto de vista nutricional, tais como: gestação, lactação, desmame e os primeiros anos de vida da criança.

Índios Guaiaqui


Curiosidade: Para os índios Guaiaqui, no Paraguai, um tabu alimentar funciona como um elemento estruturador da sociedade. Este grupo acredita que é proibido ao caçador consumir carne de suas próprias presas, porque ao comer os animais mortos por eles próprios ficariam incapazes de caçar novos animais. Assim, o produto de sua caça é distribuído e trocado com os outros membros da comunidade. Estabelece-se assim uma relação negativa entre o caçador e o produto de sua caça. Desta forma, todos os homens são colocados na mesma posição, e a reciprocidade do dom da alimentação mostra-se a partir daí não apenas possível, mas necessária. Os indivíduos são obrigados a prescindir dos animais que caçam, e a confiar nos outros membros da sociedade, permitindo
assim que o laço social se estabeleça. Os indivíduos perdem autonomia, mas a sociedade ganha força já que a separação do caçador de sua caça torna a união entre os caçadores mais forte.

Antropologia e Alimentação: Visões diferentes



A criação de regras, de prescrições e proibições, seja para a comida mas também em relação a outras actividades – ao casamento, ao parentesco, à política, etc – faz parte da chamada natureza humana. Estas razões levam a que cada vez mais antropólogos se dediquem à antropologia da comida ou da alimentação. Em vários livros podemos constatar as diferentes visões de diferentes antropólogos.


"Vacas, porcos, guerras e bruxas: os enigmas da cultura", é um livro do norte-americano Marvin Harris que afirma que a criação de suínos seria uma actividade incompatível com o nomadismo dos pastores judeus dos desertos: os porcos alimentavam-se diariamente, ao contrário dos animais ruminantes, isto segundo o Velho Testamento. A proibição seria, assim, uma forma de se impedir o consumo de uma carne cuja criação era inviável economicamente para o grupo.


Já no livro "Pureza e Perigo", para a antropóloga Mary Douglas, a proibição do consumo de carne de vaca nos judeus é de origem simbólica e não uma prática de origem utilitária como propõe Marvin Harris. Baseada nos textos do Velho Testamento, associa a restrição da carne de porco a um conjunto de valores da religião judaica dos quais fariam parte noções de santidade e de integridade. A partir desses valores é que os animais eram classificados como bons para consumo, e os ruminantes e animais de casco fendido tais como carneiros e cabras não deviam ser comidos.